Um Monumental Salto de Significado


Ken Wilber

O que nos impede de dar esse salto de significado e caminharmos para uma macrotransição ascendente? Ken Wilber explica esse processo ao longo de sua obra, descrevendo e integrando detalhadamente o desenvolvimento dos níveis de consciência (Teoria Integral ou AQAL) e as dificuldades e patologias em cada nível. Ocorre que chegamos ao último nível da primeira camada (Verde), precisando urgentemente emergir uma massa crítica de pessoas na segunda camada, pessoas que não só compreendam a natureza das macrotransições - suas fases crítica de colapso ou de irrupção -, mas que detenham poder suficiente para tomar as decisões de modo que o processo siga rumo à irrupção. 

Todavia, de acordo com Ken Wilber, ocorreu uma "autocorreção evolucionária" que criou imensos obstáculos em nosso processo evolutivo, explicado por ele em "Trump e um mundo pós-verdade" e na entrevista "Ken Wilber on the evolution of consciousness in the age of Trump":



Antes, porém, de conhecermos o pensamento de Wilber sobre esse “salto monumental de significado ou um salto cataclísmico”, em Who Are The 2nd Tier Thinkers? (apresentado mais à frente neste ensaio), é importante sabermos o que esse genial filósofo pensa sobre "Qual é o problema do mundo hoje?", na série de entrevistas que ele deu para o Future Thinkers: “cerca de 70% da população mundial encontra-se num estágio de desenvolvimento “etnocêntrico”. Isto quer dizer, por exemplo, que em termos de problemas globais como as mudanças climáticas, a maior parte das pessoas na terra não sabe o que é o aquecimento global”.



Trump e um Mundo Pós-Verdade, 17 de março. 2017
Por Ken Wilber | Tradução de Ari Raynsford

“Usando como pano de fundo a eleição de Donald Trump, Wilber analisa, à luz da Metateoria Integral, o momento atual da humanidade. Sua tese, bastante inovadora, é que, devido ao colapso e consequentes desmandos do estágio de vanguarda, a evolução, antes de seguir adiante, decidiu por um movimento de autocorreção, a fim de atenuar os efeitos deletérios sobre os níveis prévios e sobre a própria vanguarda. A partir dessa autocorreção, Wilber sugere dois possíveis caminhos para a retomada do desenvolvimento.”

(...) “Mas à medida que as décadas passavam, o Verde começou a mudar, cada vez mais, para formas extremas, desastradas, disfuncionais, até claramente doentias. Seu pluralismo de mente aberta caiu em um excessivo e desenfreado relativismo (colapsando em niilismo), e a noção de que toda verdade é contextualizada (ou ganha significado a partir de seu contexto cultural) escorregou para a noção de que não existe verdade universal, apenas interpretações culturais mutáveis (o que, no fim, desembocou em um difundido narcisismo). Noções centrais (que começaram como importantes conceitos "verdadeiros, mas parciais", mas ruíram em visões extremas e profundamente contraditórias) incluíam as ideias de que todo conhecimento é, em parte, uma construção cultural; todo conhecimento está ligado ao contexto; não há perspectivas privilegiadas; o que se considera "verdade" é um padrão cultural, e é quase sempre imposto por uma ou outra força opressora (racismo, sexismo, eurocentrismo, patriarcado, capitalismo, consumismo, ganância, exploração ambiental); o total, absolutamente único e absolutamente igual, valor de cada ser humano, muitas vezes incluindo animais (igualitarismo). Se houvesse uma linha que resumisse a essência de praticamente todos os escritores pós-modernos (Derrida, Foucault, Lyotard, Bourdieu, Lacan, de Man, Fish, etc.), seria que "não há verdade". Verdade, com mais propriedade, era uma construção cultural e o que qualquer pessoa realmente chamasse de "verdade" era simplesmente o que alguma cultura, em algum lugar, tivesse conseguido convencer seus membros de que era certo – mas não há uma coisa de fato existente, dada, real, chamada "verdade" que esteja, simplesmente, por aí aguardando ser descoberta, da mesma forma que não existe um comprimento de bainha único, universalmente correto, a ser descoberto pelos costureiros.” 

OBS.: O detalhamento sobre essa visão de Wilber, incluindo o estudo que aplica o nome de cores para descrever os níveis de desenvolvimento humano, pode ser encontrado em seu artigo “Trump e um mundo pós-verdade”.


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